segunda-feira, novembro 22, 2004

Flirt

dediquemos um poema às movimentações de inverno. e aos jogos perigosos em espaços fechados, tipo paint-ball de pavilhão, mas com mais cacos e muita mais motivação:

Flirt

De uma forma social e muito diplomata, devoro-te do outro lado da sala.
Os teus lábios no copo, a mão a aconchegar o cabelo, a linha do nariz.
Cheiro-te o torso naquela parte muito lisa junto ao umbigo onde brinco com a língua
Enquanto há um pingo lacrimoso a escorrer borda fora depois do golo.

De uma forma muito diplomata e social, não ouso tocar-te em público.
Mas os teus ombros fazem-me sombra e pouso uma mão em cada um
Controlando o compasso do gesto em simetria, recolocando os meus joelhos
Onde as tuas mãos os apanham. E mordo a pele tenra do cigarro.
E ouço-te quente ao ouvido. E evito olhar para lá.

De uma forma elegante e desligada, em vez de murmurar suspiro
Em vez de gritar fecho os olhos e sorrio, em vez de abraçar levanto o braço.
Imagino formas de comunicar a imaginação na distância, a memória no silêncio.
E apenas de vez em quando, elegante e dedicado, um olhar
imaginando a escuridão e recordando o brilho do corpo.


1 comentário:

Black Rider disse...

Gosto muito da frase "mordo a pele tenra do cigarro". Assim sim! Haja poeta! Só fica a faltar o slogan MATURIDADE, HUMILDADE, ALTRUÍSMO.
Não sei se o flirt foi feito para grandes diplomacias delicadas, gestos rituais em cafés, mas cada um vê o que vê e sente o que sente quando, às vezes, não vê nem sente nada. Mas eu não sou assim nem tu.

Anima-te!

http://sanguenanavalha.blogspot.com